Organização que promove a cultura nordestina foi a Melhor ONG de Cultura de 2020.
Como eles mesmos dizem por lá, a Associação Pisada do Sertão desenvolve pessoas para transformar o mundo. Desde 2004, a organização atende crianças, adolescentes, jovens e suas famílias em situação de vulnerabilidade social e extrema pobreza, com a missão de promover seu desenvolvimento integral por meio da cultura nordestina.
Em 2020, a organização se destacou como a Melhor ONG de Cultura. Por isso, conversamos com a Diretora Executiva e Fundadora, Ana Neiry de Moura Alves. Ela conta que a ONG agora tem como meta anual se manter entre as 100 melhores do Brasil. Confira!
Como foi a repercussão de ganhar o prêmio? Enorme. O impacto de ganhar nos deu evidência em diferentes mídias e ampliou os espaços para divulgação. Isso gerou o aumento da nossa credibilidade junto à comunidade na qual atuamos e nos tirou de invisibilidade, atraindo olhares de diferentes setores da sociedade para com o nosso trabalho.
Como comemoraram internamente? Como estávamos em isolamento social, combinamos que todo o time da Pisada do Sertão assistiria a cerimônia de premiação ao vivo. Disponibilizamos um fogo de artifício para cada colaborador celebrar em casa. Pensamos também que essa era uma forma de a comunidade local tomar conhecimento da importância do Prêmio para a organização bem como para a cidade. A comemoração foi virtual em meio aos cliques, gritos de áudios, aplausos, trocas de mensagens de parceiros, voluntários, colaboradores, vibração e fogos de artifício ecoando e com suas luzes se misturando às estrelas do céu iluminado pelo luar do sertão.
Estar entre as 100 melhores ONGs foi celebrado com grande alegria, vibração e sentimento de conquista compartilhado com todo time da Pisada do Sertão, pois não imaginávamos que estaríamos entre os destaques. Para todos nós, foi um reconhecimento de alto nível que nos fez enxergar o quão potente é o nosso trabalho, que não existem limitações para quem quer fazer acontecer, mesmo dentro de um parâmetro legal de excelência. Imaginar que uma organização do sertão paraibano, de uma cidade com 4 mil habitantes, pode ser premiada como melhor ONG de Cultura é o maior exemplo de resistência e determinação em tempos tão difíceis.
A premiação ajudou a captar recursos, voluntários, parcerias, reconhecimento da comunidade? Conseguimos aumentar nossa rede de parceria com empresas da região através da adesão do Selo de Empresa Amiga da Pisada do Sertão. Algumas empresas de impacto social entraram em contato conosco depois de nos conhecer pelo site do Melhores ONGs: uma para realizar trabalho voluntário em grupo e outra querendo destinar um percentual de vendas de sua plataforma de marketplace para apoiar as atividades da Pisada do Sertão. A organização também ganhou menção honrosa da Câmara de Vereadores do município, reforçando o título que a cidade recebe como terra da cultura. Isso sem falar que o Prêmio empoderou o time de mobilização de recurso na apresentação da organização, em seus argumentos, discurso e persuasão no momento do fechamento da parceria. E resultou num aumento de visitas no nosso site, redes sociais e in loco, de pessoas interessadas em conhecer mais sobre o trabalho da organização.
Quais são os planos para 2021? Vão se inscrever outra vez? Iremos nos inscrever novamente. Definimos como meta e já entrou em nosso planejamento anual a manutenção do prêmio. Para isto, estamos revendo nossos instrumentos de gestão, aperfeiçoando processos internos e remanejando pessoas para áreas a serem desenvolvidas para ampliar nosso impacto social.
Como a pandemia tem afetado o trabalho de vocês? A pandemia tem afetado não só o nosso trabalho como de todas as OSCs, destacamos:
– A dificuldade de atender presencialmente limita o recebimento de recursos, pois alguns financiadores não flexibilizam o atendimento virtual. Isso também gera a fragmentação dos vínculos entre o público atendido e aumenta os problemas sociais no território de atuação da organização;
– A necessidade de repensar as formas de atuação de modo virtual sabendo que parte dos atendidos não tem acesso a informação tecnológica, dificultando assim o acesso a oportunidades de aprendizagens para todos;
– O aumento e agravamento de problemas emocionais entre o público atendido e colaboradores;
– O aumento da pobreza, desigualdade e fome das famílias mais vulneráveis e a limitação econômica dos atuais e potenciais doadores;
– Eventos culturais e produção cultural foram afetados diretamente pelo atendimento às medidas preventivas contra o coronavírus.
Que conselho vocês dariam para as organizações que concorreram e não ganharam? Reveja sua inscrição no ano anterior, atente a devolutiva enviada pela equipe do Melhores ONGs, analise os itens que podem melhorar, dedique tempo para organizar esses processos, monitore o que está sendo feito e engaje seu time no mesmo propósito. O envolvimento e integração de todos favorece o êxito.
Qual é o maior desafio de gestão que vocês têm hoje? Comunicação interna e externa alinhada à missão da organização. Também faltam profissionais qualificados no mercado para atuar na gestão de pessoas e processos de organizações da sociedade civil.
E o maior orgulho? Nosso time, as pessoas que compõem a Pisada do Sertão.
Tem uma história de voluntariado ou ação que vale a pena contar? A jovem empreendedora social, Giulia Fratelli, da cidade do Rio de Janeiro, entrou em contato conosco pelo Instagram, destacando que realizava trabalhos voluntários em grupo para países da África do Sul e querendo entender mais sobre o trabalho desenvolvido aqui. Marcamos um encontro online e logo conseguimos conectar nossas causas, ela em busca de realizar trabalho voluntário no Brasil e nós precisando de voluntários para apoiar nossas ações em tempos tão difíceis.
Um mês depois Giulia estava aqui em Poço de José de Moura, sertão da Paraíba, conhecendo mais da nossa história, do nosso povo, das nossas famílias, da nossa cultura, e tendo acesso e vivências a nossos saberes e fazeres. Reunimos o time da Pisada do Sertão e criamos uma programação de trabalho voluntário que envolverá a vinda, em outubro de 2021, de médicos, psicólogos, professores, empreendedores e outros profissionais que virão atuar na comunidade urbana e rural da pequena Poço de José de Moura, trazendo esperança para quem precisa e fazendo com que eles levem um pouco do sertão nordestino em suas bagagens.
Foto: Divulgação/ Pisada do Sertão